03 outubro 2011

Guns n´ roses e EU não somos mais os mesmos. Mas vivemos!

"Axl não é mais o mesmo. Guns n´Roses não é mais o mesmo." Quanto tenho ouvido isso e o quanto ouvi ontem durante a apresentação da banda no Rock in Rio 2011. É, eu era um dos muitos que esperou madrugada adentro a última apresentação do mega evento do rock. Diferente da multidão que eu mesmo via pela televisão, estava eu lá, sozinho. Luz apagada, tv baixa para não acordar minha linda mulher e as minhas filhas, ouvindo a chuva mansinha lá fora, vendo ela cair sobre a "galera" na cidade do rock... Celular na mão, tuitando e fazendo piadinhas com amigos e parceiros que também aguardavam a apresentação que demorou mais de uma hora pra começar.

Foto: Flávio Moraes/G1

Nesse tempo de espera, lembrava de 91, a primeira apresentação da banda no Rock in Rio. Eu tinha quase 16 anos. Aborrecente de carteirinha. Estava no primeiro colegial. Cabelo comprido, magro como um palito de sorvete, usava macacão, camisa preta. Todos da minha turma do Otoniel Mota éramos assim. Identificação. Tribo. Esse ano foi um marco pra mim. Eu deixara o SESI 298, onde estudei todo o ensino fundamental, a zona de conforto da escola perto de casa para ir para o colégio do centro. Novidade. Medo. Riscos. Os amigos de anos agora são outros. O Information Society já não era mais referência. O Rock grunia na minha cabeça e na alma como se ali estivesse preso só esperando para ser solto. Assim como o Du (que antes só se chamava de Eduardo, ou Geléia, é aquele dos caça-fantasmas, assunto para outro post mais constrangedor).
Pensava somente que era o primeiro ano do resto da minha vida. Procurava identificação. Comigo e com os outros. E foi naquele 91 que conheci o Guns n´Roses, assim como outras bandas de rock que me acompanham até hoje. Eu, Leandro, Carlos, Douglas, Lordo, Xande, Gui, Luis e o Renato, Jossie Renato (kkk), o mais fanático da turma. Usávamos camisetas da banda, cantávamos as músicas, tocávamos, tínhamos livrinhos com cifras compradas na banca de jornais, pastas com partituras xerocadas. E viviamos tudo aquilo, junto com os ídolos. A festa tinha "Sweet Child o´mine", no carro tocava "Knocking on heavens door", quando tava com raiva do mundo ouvia "Paradise City" e "You are Crazy" bem alto. Quantas VHS´s gravadas, quantas fitas cassetes, quantos beijos alucinados, quantas revoltas, quantas alegrias, quantas conquistas, quantas fossas, quantas viagens, quantos passeios. Faz parte da minha vida, a história da banda se mistura com o meu eu. Longe de fanatismo, não confundam.

Mas voltando ao show de ontem, quase próximo deles tocarem eu mesmo me perguntava o que fazia ali, perdendo horas preciosas de sono que com certeza fazem falta hoje, até porque não sou mais o mesmo. Opa. Aí chegamos na questão. O tal do tempo passa para TODOS, TODOS sem excessão. Para uns mais rápido e para outros não. Claro que pro Dinho Ouro Preto o tempo parou.  O cara tem um formol espetacular, não é? Mas para outros ele é mais cruel. Por outro lado, Cazuza, Renato Russo, Lenon, Morrison, Joplin, não tiveram que amargar essa fase da vida e envelhecerem, se deparar com seus próprios medos e pesadelos de não serem mais os mesmos ídolos que foram um dia, de conseguir contentar todos aqueles que um dia os admiravam.
E por isso digo que a banda mudou sim. Queria ver o Slash, o Matt, o Duff, porém, tinha o Axl. No Mc Donald´s tem uma frase que nunca esqueço: "Ninguém é melhor que TODOS nós juntos". É verdade. A banda era muito melhor. Eu tinha uma banda que era "a" melhor. Mas não conseguimos tudo que queremos. É preciso aprender a lidar com certas perdas e frustrações. Se adaptar. Axl está diferente sim, numa versão judiada pelo tempo, mas o "cara" estava ali, debaixo de chuva, dando o máximo dele, o máximo, pra mim e muitos outros que também tiveram histórias, onde de alguma forma o Guns estivesse envolvido. Corajoso, sem dúvida, pra ele também não deve ser fácil enfrentar o tempo. Pra mim também não é. O garoto aqui que tinha 15, hoje tem 35. Ele ainda tenta ser um garoto, ainda que a idade não permita e diga todos os dias de diversas maneiras que não pode mais. Ele ainda quer  dançar, beijar, sonhar, cantar, pular, se divertir, ouvir música que gosta, usar calça jeans, ter cabelo comprido e usar all star. É uma maneira nostálgica de se manter vivo e jogar as crises, anseios e frustrações de lado. Talvez, eu, Axl, você que lê esse texto já não somos mais os mesmos. E que bom! Evoé! Isso significa que somos humanos, que estamos vivendo e que não desistimos, mesmo com toda torcida contra. É. Estamos aqui dando o melhor de nós e sendo feliz, isso é que importa. Valeu Axl, valeu Guns!